quinta-feira, 3 de maio de 2012

Marcha à ré na América do Sul

Fonte: O Globo
É impressionante que alguns países sul-americanos enveredem cada vez mais por um caminho que, longe de os fazer avançar, os leva na direção oposta, rumo a um pântano em que muitos já atolaram. Na América do Sul, há grupos indo em duas direções: uns progridem melhorando suas credenciais democráticas e aperfeiçoando a economia de mercado; outros embrulham em novos slogans a velha ideia nacionalista/populista de que a solução é estatizar empresas. Não surpreende que sejam estes os que mais maltratam a democracia.

O fundador do atual ciclo nacional/estatizante foi o coronel Hugo Chávez, da Venezuela, que imaginou transformar sua nação num obstáculo ao "avanço do império" (os EUA) na América do Sul e reunir em torno de si uma constelação de países com o mesmo credo numa associação, a Aliança Bolivariana da América (Alba), capaz de rivalizar com a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). Exageros caudilhescos à parte, os EUA não levaram a Alca à frente, por relutância do Brasil/Argentina, e a Alba ficou apenas como símbolo do grupo dissonante.

Aliado de Chávez, Evo Morales, primeiro indígena a governar a Bolívia, aproveitou a data cheia de simbolismo do Primeiro de Maio para nacionalizar a Rede Elétrica Espanhola (REE), dona da Transportadora de Eletricidade (TDE), que atende a 85% do mercado boliviano. Já é uma tradição: há seis anos, anunciou a estatização de toda a cadeia de petróleo e gás, inclusive dos ativos da Petrobras. Desde então, a cada Dia do Trabalho, Morales providencia novas encampações.

A iniciativa boliviana ocorreu pouco mais de duas semanas após a expropriação, pelo governo argentino, da empresa de energia Repsol-YPF, pertencente ao grupo espanhol Repsol. Medida que provocou impacto no mercado e forte repúdio na Espanha, que iniciou, inclusive, alguns procedimentos retaliatórios. A repercussão foi péssima também na UE. Na Argentina, os ciclos se sucedem ao sabor da necessidade do governo da hora, pois a YPF fora privatizada no governo Menem, em 1999. O mesmo aconteceu com a Aerolíneas Argentinas, vendida na década de 90 ao grupo espanhol Marsans e expropriada em 2008.

O grupo pró-estatização inclui, além de Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua. O velho argumento de expulsar o "tubarão imperialista" - seja ele uma multinacional americana ou uma empresa espanhola - não passa de um truque para caudilhos do século XXI usarem o nacionalismo exacerbado para se perpetuar no poder. Mesmo que ao custo de afugentar o investimento externo necessário à melhoria das condições de vida da população. É o velho populismo em ação.

Sabe-se que a empresa privada é mais eficiente e oferece maior gama de produtos e serviços ao consumidor. O Estado, aí sim, tem os instrumentos para punir desvios de conduta. Países sul-americanos mais bem-sucedidos, como Brasil, Chile e Peru, são exemplos disso. Já a empresa estatal é sabidamente ineficiente e, no mais das vezes, deficitária. Sangra os cofres do Estado e, em consequência, o bolso do contribuinte. Serve apenas ao caudilhismo, enquanto ele está no poder.

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