Por ser um preço que afeta todo o comércio e os investimentos entre as duas maiores economias do mundo, o câmbio entre o yuan e o dólar há muito vem sendo uma fonte de controvérsia política.
Assim foi mais uma vez na semana passada, quando o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, afirmou aos seus colegas chineses, mais uma vez, que o yuan "precisa" se valorizar mais em comparação ao dólar e a outras moedas.
Desta vez, o tom foi mais brando que no passado. Ao falar no encontro anual EUA-China, em Pequim, Geithner disse que o yuan subiu 13% em relação ao dólar, em termos reais, nos últimos dois anos.
Talvez Geithner não quisesse entrar em conflito com seus anfitriões. Afinal, a fuga do dissidente cego chinês Chen Guangcheng para a embaixada americana, na semana passada, ameaçou provocar uma tempestade diplomática.
No entanto, uma outra explicação mais convincente para a posição da Geithner é simplesmente o aumento das evidências que sugerem que o yuan não é mais uma moeda particularmente subvalorizada.
Agora que o superávit comercial da China caiu para cerca de 2% do PIB, em comparação a quase 8% em 2007, a visão geral passou a ser que a moeda chinesa chegou perto de seu nível de "equilíbrio".
Até o HSBC, um dos maiores incentivadores do yuan, mudou de atitude. Na semana passada, o banco reduziu sua previsão de valorização do yuan em relação ao dólar para menos de 2% em 2012.
"Agora que a pressão cíclica pela valorização da moeda diminuiu, a história do yuan entrou em uma nova fase, em que o mercado considera um futuro em que a moeda não mais ficará estruturalmente subvalorizada", escreveu Paul Mackel, diretor de análises de câmbio do HSBC para a Ásia, em uma nota a clientes.
Para fundamentar seu argumento, Mackel observou que "os fluxos externos ficaram muito mais equilibrados", com o superávit em contra corrente da China caindo de 10% do PIB, em 2007, para cerca de 3%.
O yuan já percorreu um longo caminho. Em termos nominais, ele se valorizou 31% em comparação ao dólar desde 2005. A taxa de câmbio "real" da China subiu ainda mais por causa do efeito significativo da inflação. Os salários, em particular, vêm aumentando no país em um ritmo anual de mais de 20% - bem acima do aumento da produtividade - o que significa que os produtos chineses ficaram mais caros nos mercados internacionais.
Jim Walker, do centro de estudos Asianomics, de Hong Kong, diz que muitas empresas do setor industrial estão transferindo suas fábricas da China para países mais baratos. "O quadro é muito claro no sudeste da Ásia", diz ele. "Os segmentos da indústria que exigem muita mão-de-obra e que fabricam produtos baratos estão saindo da China. A partir apenas desta perspectiva, a moeda chinesa já está sobrevalorizada."
Os fluxos de capital ficaram mais equilibrados. Os estrangeiros não estão mais despejando tanto dinheiro na China e parecem ter perdido a maior parte de seu apetite pelo yuan. Um sinal de que a demanda internacional está morna é que a quantidade de yuan depositada nos bancos de Hong Kong caiu 10% desde o pico registrado em novembro.
Os ricos da China estão enviando uma parcela maior de suas fortunas para fora do país, abocanhando propriedades em lugares que vão de Sidnei a Vancouver, uma vez que o Partido Comunista prepara, para o quarto trimestre, a transição na liderança do país, que ocorre uma vez a cada dez anos.
A combinação de uma desaceleração da entrada de capital e um aumento da saída significa que as reservas internacionais da China não estão mais crescendo com a velocidade de antes. O banco central chinês acumulou US$ 3,3 trilhões em reservas na última década. Mas, no último ano, o estoque cresceu apenas 8%, bem abaixo do crescimento médio de 25% em cada um dos nove anos anteriores.
A questão agora, é para onde o yuan vai. No mês passado, a China começou a permitir uma maior volatilidade nos negócios diários do mercado de câmbio, para muitos um sinal de que ele não é mais uma "aposta de uma única mão".
Ele não pode subir ou cair 1% ao dia em relação à taxa oficial, em relação ao dólar. Isso é o dobro da faixa de negociação anterior. "Pode-se ver claramente que há mais tensão na ponta inferior dessa banda de negociação, do que na ponta superior", afirma Pierre Gave, diretor de análises da Gavekal, uma consultoria de Hong Kong. "Portanto, o grau de subvalorização do yuan do ponto de vista estrutural está ficando menos claro."
De uma forma lenta e segura, o consenso antigo de que o yuan está muito subvalorizado parece estar se desfazendo. Muitas pessoas agora acreditam que o "equilíbrio" já foi alcançado, ou será em breve, e um número pequeno, mas crescente, de pessoas acredita que o yuan já está sobrevalorizado.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) entrou na discussão no mês passado ao reduzir sua previsão de superávit em conta corrente da China para os próximos anos, prevendo que os avanços serão "modestos".
Se essa revisão significar alguma coisa, o FMI poderá abandonar sua posição de longa data de que o yuan está "substancialmente" subvalorização, quando divulgar o seu relatório anual sobre a China, possivelmente no próximo mês.
Tal opinião dará a Pequim munição contra os críticos que afirmam que o governo mantém o yuan artificialmente barato para dar suporte às suas exportações. Não espalhe por aí, mas a desvalorização do yuan não é mais uma ideia tão improvável.
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