O investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina bateu recorde em 2011, atingindo US$ 153,4 bilhões, segundo relatório divulgado ontem pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), órgão das Nações Unidas. O grande volume de ativos multinacionais na região, a boa rentabilidade e o bom desempenho da economia explicam a alta, mas os dados sugerem que os investidores preferem aplicar seu dinheiro em países que, além do dinamismo da economia e de recursos naturais, oferecem estabilidade jurídica e macroeconômica.
Com US$ 66,6 bilhões, o Brasil segue na ponta do ranking, sendo responsável 43,4% do IED na região em 2011. O México (US$ 19,4 bilhões) vêm em seguida. A Europa foi a maior fonte de investimentos, respondendo por quase 40% do IED total em 2011. Empresas dos EUA (18%) e do Japão (8%) são outros grandes investidores.
"Países que mostram dinamismo econômico, oferta de recurso e estabilidade atraem mais investidores, de acordo com a aversão ao risco do investidor", disse ao Valor o diretor do escritório da Cepal no Brasil, Carlos Mussi.
Isso explica, em parte, o desempenho relativamente ruim de países como a Venezuela e a Argentina, em que estatizações, forte intervenção do Estado e mudanças bruscas na política econômica têm reflexos diretos no IED.
A Argentina, terceira maior economia da região, vem atraindo menos investimentos do que os países andinos. O IED do Chile chegou a US$ 17,3 bilhões em 2011 e o da Colômbia, a US$ 13,23 bilhões. O Peru atraiu US$ 7,66 bilhões de IED, contra US$ 7,24 bilhões da Argentina.
O país vem adotando nos últimos anos políticas de controle de preço, substituição de importações e, recentemente, expropriou ativos da petroleira YPF pertencentes à espanhola Repsol, o que deve afugentar investidores.
No caso da Venezuela, onde também há uma forte intervenção do governo, o IED aumentou 339% em 2011, para US$ 5,302 bilhões. Segundo técnicos da Cepal, o setor petroleiro respondeu por 65% desse montante. O país, dizem eles, passou por vários anos de investimento muito baixo, inclusive negativos por duas razões. A primeira foi a política de nacionalização em alguns setores importantes, que significou a saída de empresas. A segunda foi a mudança nas condições de exploração das concessões petroleiras, que por alguns anos diminuíram a IED no setor.
De acordo com os técnicos, a maioria das nacionalizações já foi executada, e as empresas se ajustaram às novas condições para o setor, que requerem uma associação com a estatal PDVSA, que detém nelas a maioria dos ativos. Mas o fluxo de investimento em outras áreas ainda é negativo porque empresas de setores que vêm sendo estatizados estão deixando o país.
Apesar da crise na Europa, maior investidor na região (40% do IED), o cenário continua favorável. "Há um risco de a crise contagiar os investimentos na América Latina. Mas as empresas europeias encontram aqui disponibilidade de recursos e financiamento atraente para o seu capital", disse Mussi.
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