Ainda é cedo para falar que o dólar perdeu completamente a tendência de alta, pois nunca se sabe que notícias o quadro externo pode produzir, mas é certo que a corrida de compra entrou em pausa e não foram as condições de mercado que mudaram.
O que mudou foi a postura do governo com relação ao câmbio.
Em seis leilões de swap cambial o Banco Central (BC) colocou à disposição do mercado nada menos do que US$ 12,075 bilhões. Desses, cerca de US$ 5,4 bilhões foram tomados.
Cabe uma breve distinção, mas o que ocorreu foi uma venda de dólar futuro nessas proporções. O BC primeiro "zerou" os swaps reversos (que equivalem à compra de dólar futuro) que tinha ofertado quando o dólar caía e depois vendeu "novos" contratos.
Essa atuação, aliada ao aceno de que o grau de volatilidade preocupa a autoridade monetária, descolou o câmbio local do movimento externo.
Na sexta-feira, o real foi destaque de alta entre as poucas moedas que ganharam do dólar. Na semana, a história se repetiu, mas a moeda brasileira foi a única que ganhou valor.
O dólar comercial fechou o último pregão da semana a R$ 1,995, em queda de 1,68%.
Na semana, o dólar recuou 1,19%, e marcou a primeira queda semanal após seis altas. No mês, o ganho é de 4,6%. E no ano, a valorização está em 6,74%.
Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar para junho caiu 2,19%, a R$ 1,986.
No câmbio externo, o Dollar Index, que mede o dólar ante uma cesta de moedas, subiu 1,6% na semana, para 82,42 pontos. O euro fechou a US$ 1,251, e acumulou perda de 2,1% na semana.
A mudança de postura contrasta com a atuação recente do BC e com a fala do governo que, sempre que possível, afirmava que dólar a R$ 2 não era motivo de preocupação, que o dólar alto é bom para indústria, que a valorização tem impacto limitado na inflação, que o país luta a "guerra cambial" e se defende do "tsunami monetário" provocado pelos BCs de economias desenvolvidas.
O BC defende a intervenção apontando para a necessidade de mitigar a volatilidade e reparar disfuncionalidades do mercado. A autoridade também afirma que não trabalha com meta para a taxa de câmbio.
Mas no mercado a leitura é diferente. Conforme são feitos leilões de swap, cresce a percepção de que os R$ 2 são o novo "teto" para moeda americana.
De tal avaliação partem as diversas teorias, como a preocupação com a inflação, algo que no limite poderia levar o BC a revisar o orçamento de corte de juros.
Outros acreditam que os leilões do BC são o primeiro passo para o governo repensar as diversas medidas de restrição ao capital externo, como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posição vendida em derivativos e prazo mínimo para captações externas isentas de tributação.
O fluxo cambial não está positivo, mas a saída líquida no mês até dia 22 de US$ 1,156 bilhão não assusta. O que chamou atenção, mesmo, foi a debandada de US$ 5,144 bilhões pela conta financeira, a maior desde dezembro de 2008.
Olhando para frente, a vida do comprado em dólar está mais incerta com a presença do BC. Fica a dúvida se o mercado vai querer testar um novo "piso", já que o incentivo do governo à compra praticamente acabou.
Nos juros futuros, o mercado encerrou em calmaria uma semana marcada pela volatilidade. Faltando três sessões para o Comitê de Política Monetária anunciar sua decisão sobre a taxa básica de juros que vai vigorar até dia 7 de junho, o mercado manteve a aposta predominante em um corte de 0,5 ponto percentual. Com isso, a Selic iria a 8,5% ao ano, nova mínima histórica.
O economista do Banco Pine, Marco Maciel, diz que o afrouxamento monetário é necessário para que a crise externa não deixe o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro muito abaixo do PIB potencial.
O economista prevê expansão de 2,3% este ano e 3,2% no ano que vem.
Essa tese, de que a crise externa é o principal vetor da demanda agregada tanto externa quanto local, é usada por economistas para explicar porque os contratos futuros passaram a andar colados aos títulos americanos.
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