Os chineses acreditam que os conflitos comerciais entre Brasil e China são apenas uma pequena parte da relação bilateral, mas estão preocupados em evitar que eles se ampliem, afirmou o recém-nomeado embaixador chinês em Brasília, Li Jinzhang, ex-vice-ministro de Relações Exteriores do país. "Esses problemas comerciais, comparados à cooperação entre os dois países, são como um dedo das mãos, comparado aos outros nove dedos, onde tudo vai muito bem", disse o embaixador.
Ele criticou, porém, o aumento do IPI para automóveis, que autoridades brasileiras anunciaram como maneira de barrar, principalmente, a importação, no Brasil, de automóveis chineses. "Muitos países se manifestaram contra essa medida, acham que não corresponde às regulamentações da Organização Mundial do Comércio", disse o embaixador, cauteloso. "Mesmo no Brasil muitas pessoas têm o mesmo ponto de vista". Li Jinzhang lembrou que montadoras da China anunciaram investimentos no país e defendeu a qualidade dos carros chineses.
"As duas partes devem, em nível governamental, dar mais apoio e facilidades entre empresas dos dois países, criando um ambiente de investimento, comércio e na mídia mais amigável", sugeriu. Ele defendeu, porém, a recente regulamentação editada pela China, após reclamações de armadores chineses, que proibiu o atracamento nos portos do país de cargueiros de grande tonelagem, como os construídos pela Vale para levar minério de ferro aos clientes asiáticos. As medidas restritivas às grandes embarcações foram motivadas por "exigências tecnológicas e de segurança dos portos".
O embaixador chinês acompanha as reuniões preparatórias para a segunda reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban), que, na próxima semana, discutirão um programa de dez anos para a "parceria estratégica" entre os dois países. Um dos principais dirigentes chineses, o vice-primeiro ministro Wang Qishan, trará ao país uma comitiva de 50 altos funcionários chineses (e nenhum empresário) para fazer avançar as 11 subcomissões criadas entre os dois países, para tratar de temas que vão da cooperação financeira e econômica a educação e ciência.
"Os trabalhos preparatórios estão correndo bem", disse o embaixador, sem dar detalhes. Na área de ciência e tecnologia, os chineses querem ampliar a cooperação já existente na produção e lançamento de satélites para programas de cooperação também em agricultura, biologia, nanotecnologia e energias renováveis. Li Jinzhang aponta, como sinal de sucesso, o forte crescimento do comércio bilateral, que, pelas estatísticas chinesas, gera resultados ainda maiores que os apontados pelo governo brasileiro: enquanto o Ministério do Desenvolvimento registra um superávit, para o Brasil, de US$ 10,5 bilhões, as contas, na China, indicam que o comércio é superavitário para os brasileiros de US$ 20,6 bilhões (diferença explicada, provavelmente, pela entrada de produtos chineses no Brasil que fizeram escala em outros destinos antes de serem embarcados ao país).
É ambígua, porém, a avaliação, no Brasil, sobre o resultado da cooperação com os chineses. Embora autoridades no Itamaraty considerem bem sucedidas as aproximações entre os dois governos nos temas bilaterais e haja até planos de expansão em setores como o financeiro, com ampliação das atividades do Banco do Brasil em Xangai, por exemplo, há subcomissões bilaterais, como a de cultura, que não conseguiram realizar uma reunião sequer, e há fortes queixas de empresários brasileiros contra barreiras de entrada no mercado chinês
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