A proposta do Brasil de levar o tema do câmbio para a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem agora apoio de congressistas de peso no Congresso dos EUA, que veem nisso um meio de atingir a China. Os presidentes da Comissão de Finanças do Senado americano, Max Baucus, e da Comissão de Orçamento da Câmara dos Representantes, Dave Camp, escreveram ao secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e ao representante comercial, Ron Kirk, na semana passada, pedindo à Casa Branca que apoie a discussão.
Para os parlamentares, isso ajudará a definir como as regras da OMC podem ser usadas para combater manipulações de taxa de câmbio. Acham que também a discussão pode ajudar a manter a pressão sobre a China, que acusam de manter a moeda desvalorizada e, dessa forma, dar uma vantagem desleal a seus exportadores e prejudicar os produtores americanos.
Autoridades americanas sinalizaram ao Brasil que querem discutir como prosseguir o debate. ""A questão é saber qual o tipo de abordagem que os EUA querem"", afirma por sua vez o embaixador brasileiro junto à OMC, Roberto Azevedo.
Desde que o Brasil trouxe o tema para a OMC, a entidade quebrou um tabu e examinou mais de 40 estudos internacionais sobre o impacto do câmbio nos fluxos comerciais. No levantamento, 19 deles apontam efeito negativo do câmbio sobre o comércio, 14 veem pouco ou nenhum impacto e 6 acham que o impacto é positivo.
A OMC reconheceu o óbvio: as oscilações nas taxas de câmbio no curto prazo afetam os fluxos do comércio internacional, dependendo do país ou empresa. A constatação, mesmo com nuances, dá, na prática, legitimidade à preocupação do Brasil com desalinhamentos cambiais que levaram o país a trazer o tema para a entidade.
A próxima etapa será a organização, pela OMC, de um grande seminário internacional nos dias 27 e 28 de março, em Genebra. O Brasil queria o encontro aberto ao público, mas vários países bloquearam a ideia. Fontes indicam que a China vetou a discussão dos impactos do câmbio nas regras comerciais (tarifas, antidumping, subsídios). Do jeito que está, o seminário só vai discutir o sexo dos anjos"", avalia um analista que acompanha as discussões.
Em algum momento, os países terão de decidir o que fazer - se, por exemplo, as regras deveriam permitir que um país eleve a tarifa de importação para compensar o câmbio desvalorizado dos parceiros, como no caso do chamado ""antidumping cambial"" do Ministério do Desenvolvimento. ""As regras da OMC continuarão inúteis se o câmbio não for considerado"", diz um acadêmico.
Na OMC, Brasil e a China evitam trocar "caneladas". Recentemente, o Brasil sofreu novo ataque de vários países por causa da alta do IPI sobre os carros importados. A novidade é que a China ficou calada dessa vez. Os chineses têm planos de investir na indústria automotiva brasileira e preferem discutir o assunto bilateralmente.
Na questão cambial, o Brasil sabe que é preciso levar em conta o que pode acontecer dentro de alguns anos, quando eventualmente o real voltar a uma taxa mais normal e os EUA, por exemplo, tentarem sobretaxar produtos brasileiros por causa de câmbio.
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