Os ministros das finanças do G20 reunidos no fim de semana na Cidade do México reafirmaram a agenda de implantação das regras regulatórias para o sistema financeiro global. Isso inclui principalmente a implantação do acordo de Basileia 3 ao longo de oito anos. "Não haverá flexibilização", disse ao Valor o diretor de assuntos internacionais do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva. Nas ultimas semanas, algumas vozes dentro do G20 sugeriram flexibilizar as regras e o cronograma de Basileia 3. Os bancos dizem que as novas regras vão levar a um processo de desalavancagem, derrubando a tímida recuperação da economia mundial
Os ministros de Finanças dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) discutiram nesse fim de semana na Cidade do México a criação de um novo banco multilateral de desenvolvimento, comandado apenas por países emergentes. Ainda sem nome definitivo, a nova instituição financeira vem sendo informalmente chamada de Banco Sul-Sul, ou Banco dos Brics.
O tema já vinha sendo discutido em conversas informais desde fins do ano passado, mas o projeto ganha outra dimensão agora que os Estados Unidos caminham para manter seu monopólio na presidência do Banco Mundial, indicando outro americano para suceder Robert Zoellick, que anunciou que deixará o cargo em junho.
Os Brics também debateram a sucessão do Banco Mundial, mas é bastante incerto se serão capazes de apresentar um candidato alternativo para disputar com o candidato americano. Especula-se que os Estados Unidos possam indicar o ex-assessor econômico da Casa Branca Larry Summers, ou a secretária de Estado, Hillary Clinton.
A ideia de criar um novo banco foi sugerida originalmente pela Índia e conta com a simpatia do Brasil. As conversas estão em estágio bastante inicial e, se forem levadas adiante, será um projeto para um prazo bem longo, dado os desafios para criar uma instituição do tipo.
Os países emergentes, que representam fatia cada vez maior da economia mundial, sentem-se excluídos dos processos decisórios dos dois organismos criados pelo acordo do Bretton Woods: por um acerto não escrito, um europeu sempre preside o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto um americano comanda o Banco Mundial. Na sucessão do FMI, a China acabou apoiando Christine Lagarde em troca do terceiro cargo mais importante no órgão.
Um dos desafios para os emergentes criarem um banco multilateral é conseguir levantar o dinheiro. O Banco Mundial e outros bancos multilaterais funcionam num esquema em que a maior parte dos recursos são colocados por países desenvolvidos, enquanto que os países em desenvolvimentos são tradicionalmente tomadores de empréstimos.
Mas as economias emergentes mais dinâmicas, como os Brics, têm contribuído com cada vez mais recursos para reforçar o caixa de organismos multilateriais. Mesmo assim, as economias avançadas seguem preponderantes. O FMI, por exemplo, está pedindo US$ 600 bilhões aos seus sócios. A Europa sozinha vai colocar US$ 250 bilhões, e esperam-se US$ 100 bilhões do Japão.
Outro problema relevante é o custo de captação de um banco só com emergentes. O Banco Mundial consegue captar recursos no mercado com baixos juros porque se beneficia do rating de risco baixo de seus principais sócios, as economias avançadas.
Os mais otimistas afirmam que hoje os emergentes estão com posição fiscal mais sólida, ao contrário das economias avançadas, que em geral exibem altos graus de endividamento público. Será apenas uma questão de tempo, por esse raciocínio, para a avaliação de risco dos emergentes melhorar.
Mas, mesmo entre os que acreditam que os emergentes são capazes de criar um banco próprio, há o reconhecimento de que esse será um processo longo - incluindo criar uma sede e treinar um corpo de funcionários especializados para desempenhar a tarefa.
Essa não é a primeira iniciativa entre paises emergentes para criar seu próprio banco. Na América Latina, discute-se a criação do Banco do Sul. Ele seria uma contrapartida ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cujo principal sócio são os Estados Unidos.
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