Autor: Gilberto Costa
Esforço conjunto de oito ministérios caminha para a edição de
portaria que vai criar um conselho consultivo para definir as diretrizes do
governo para a nanotecnologia, como é conhecida a capacidade tecnológica de
manipular a matéria de tamanho atômico, de 1 a 100 nanômetros – cada nanômetro
tem um milionésimo de milímetro, ou seja, uma unidade 10 mil vezes menor que o
diâmetro do fio de cabelo.
A intenção do governo é estimular a pesquisa básica, a pesquisa aplicada na
indústria e o desenvolvimento de materiais em diversos ramos de atividade
produtiva, como a indústria têxtil, eletrônica, farmacêutica, de cosméticos e de
plástico, além de agricultura e produção de energia.
O conselho consultivo vai arbitrar sobre a proposta que o Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) deverá fechar até março para o segmento.
Segundo a Estratégia Nacional do MCTI, lançada no ano passado, a proposta
tratará da formação de pesquisadores e da infraestrutura dos laboratórios de
pesquisa; criará políticas para aumentar o número de empresas que desenvolvem
nanotecnologia; e estabelecerá parâmetros para a cooperação internacional.
Além disso, a estratégia prevê a criação do Sistema Nacional de Laboratórios
em Nanociências e Nanotecnologias (SisNano) para aumentar a interação entre os
pesquisadores. “É preocupação do atual ministro [Marco Antonio Raupp, do MCTI]
nós estabelecermos uma governança do sistema”, revela o físico Adalberto Fazzio,
coordenador-geral de Micro e Nanotecnologias da Secretaria de Desenvolvimento
Tecnológico e Inovação do MCTI.
Segundo ele, o desenvolvimento industrial do país depende de pesquisa e
investimento em nanotecnologia. “Se nós queremos inovação, se queremos uma
indústria de manufaturados forte, temos que ter uma tecnologia forte. Hoje, isso
passa por ter a nanotecnologia”, defendeu em entrevista à Agência
Brasil.
O MCTI conta com 16 institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCTs)
dedicados a estudos de nanotecnologia, o que representa cerca de 13% dos INCTs,
além de mais dez unidades de pesquisa atuando na área. De acordo com o Panorama
da Nanotecnologia, publicado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industria (ABDI), 2.242 pesquisadores brasileiros escreveram 833 artigos
científicos entre 2005 e 2008 a respeito do assunto; e quase 70% dos artigos são
de pesquisadores vinculados a universidades e institutos de pesquisa de São
Paulo, sendo 204 artigos da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Fazzio, os pesquisadores “estão sedentos por interagir com as
empresas”. A intenção do MCTI é aportar investimentos na melhoria e aquisição de
equipamentos para os laboratórios dos institutos e universidade, e estimular
parcerias com empresas que buscam inovação em nanotecnologia.
A disposição do governo é bem vista na indústria. Para o diretor de Assuntos
Industriais da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Marcelo Kós
Silveira Campos, a política de nanotecnologia “deve envolver o desenvolvimento
tecnológico e também focar o mercado”. Ele espera que a iniciativa resulte na
elaboração de um marco regulatório para pesquisa e uso de nanotecnologias. Ainda
são pouco conhecidos os riscos potenciais à saúde humana e animal e ao meio
ambiente com o desenvolvimento das nanotecnologias.
Ele lembra que o país ocupa uma posição pouco expressiva no desenvolvimento
de nanotecnologias. “Há distâncias no país entre o desenvolvimento científico e
o passo seguinte necessário para transformar isso em alguma funcionalidade e
depois transformar em inovação”, lembra.
Mais de 600 empresas informaram desenvolver atividades relacionadas à
nanotecnologia à Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), feita pelo IBGE em
2008. Conforme a ABDI, o Brasil é o 25º país no ranking mundial de
nanotecnologia. “Observa-se um reduzido número de empresas que incorporam
nanotecnologias em seus produtos ou processos ou que fabricam nanomateriais […]
Esse fato tem forte relação com a posição pouco expressiva do Brasil em relação
ao seu portfólio de patentes”, descreve a ABDI na publicação Panorama da
Nanotecnologia.
Edição: Lana Cristina
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