terça-feira, 26 de julho de 2011

Teva se vê do outro lado das patentes

Por JONATHAN D. ROCKOFF
Fonte: The Wall Street Journal

A Teva Pharmaceutical Industries Ltd., uma gigante de remédios genéricos que transformou em missão desafiar as valiosas patentes das maiores farmacêuticas do mundo, está sentindo na pele as dores de suas próprias táticas.

A empresa israelense tornou-se uma das maiores fabricantes de medicamentos do mundo vendendo cópias genéricas de caros remédios de marca. Nos Estados Unidos, por exemplo, os genéricos da Teva respondem por um em cada cinco medicamentos receitados, segundo a empresa. Mas a Teva também tem um negócio de remédios de marca. Seu principal produto é o Copaxone, um tratamento para a esclerose múltipla que gerou mais de US$ 3 bilhões do total de US$ 16,1 bilhões faturado pela Teva no ano passado.

Agora é o Copaxone que está enfrentando a ameaça da concorrência dos genéricos. As rivais Mylan Inc. e Momenta Pharmaceuticals Inc. encaminharam pedidos separados à Agência de Remédios e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) para vender cópias do Copaxone em antecipação ao vencimento de várias patentes importantes em 2014 e 2015. Para poder vender suas versões genéricas mais cedo, as rivais estão desafiando a validade das patentes, uma estratégia que a Teva ajudou a inventar.

Em resposta, a Teva processou as rivais por violação de patentes, seguindo passos do manual das grandes farmacêuticas para defenderem-se de concorrentes. A empresa também pediu à FDA que exija testes clínicos de grande escala das propostas cópias, uma etapa que não é necessária para os genéricos, mas que os fabricantes de medicamentos de marca têm utilizado para proteger certos medicamentos. Por ora, a agência sanitária rejeitou todos os pedidos da Teva para que sejam requeridos testes clínicos, mas uma parte do litígio continua em curso em um tribunal federal de Nova York e outra está programada para começar em 7 de setembro.

"Eles estão agindo como uma grande farmacêutica. Estão defendendo suas patentes como a Merck ou a Pfizer teriam feito. Essa é que é a ironia aqui", diz Richard Shea, diretor financeiro da Momenta.

A Teva afirma que suas patentes são válidas e foram obtidas de acordo com os procedimentos do escritório de patentes. Não há "nada de errado com defender suas patentes, e quando estamos do outro lado, lutando pelo nosso genérico, não nos queixamos do fato de que as farmacêuticas donas da marca estão defendendo suas patentes", diz David Stark, diretor jurídico da Teva nas Américas.

A disputa ressalta como as pressões de negócio estão tornando mais tênue a linha que separa as farmacêuticas de marca dos fabricantes de genéricos e levando empresas líderes de ambos setores a desenvolverem estratégias similares. Agora, o laboratório Sandoz, da Novartis AG, que faturou US$ 8,5 bilhões em 2010, já é o segundo maior vendedor de medicamentos genéricos do mundo, depois da Teva. No ano passado, o gigante francês Sanofi SA obteve US$ 2,2 bilhões com as vendas de genéricos e estabeleceu uma joint venture para vender cópias genéricas no Japão.

Para as grandes farmacêuticas, a expansão no mercado de genéricos é, em parte, um esforço para alcançar crescimento em mercados emergentes, como Brasil, Índia e Rússia, diz Frederic Brunner, diretor-presidente da consultoria a-connect e ex-executivo da Novartis.

A maioria dos consumidores nesses mercados não pode pagar os preços dos medicamentos de marca, e as empresas dos países ricos vendem "genéricos de marca", mais acessíveis, mas ainda vendidos a preços mais elevados do que os remédios sem nenhuma marca, porque o nome da empresa denota mais qualidade.

Os grandes laboratórios farmacêuticos também estão alavancando seu conhecimento em medicamentos complexos conhecidos como "biológicos" para desenvolver cópias desse tipo de tratamento. Tanto a Pfizer Inc. quanto a Merck & Co. informaram que estão trabalhando em versões genéricas de remédios biológicos.

Para as empresas de genéricos, os medicamentos de marca poderiam ajudar a combater a crescente concorrência de rivais na Índia, que têm espremido ainda mais os preços e as margens dos medicamentos genéricos.

"O que costumava ser um negócio muito lucrativo e um semi-oligopólio passou a ser supercompetitivo e feroz", diz Brunner.

Nos últimos cinco anos, empresas de genéricos da Índia, como a Aurobindo Pharma Ltd., a Dr. Reddy's Laboratories Ltd., a Lupin Ltd. e a Ranbaxy Laboratories Ltd. aumentaram sua participação de mercado de 4%para 21%, enquanto as dez maiores fabricantes de genéricos perderam 10% da sua participação, segundo Ronny Gal, analista da Sanford C. Bernstein. Os produtos de marca desfrutam de um monopólio durante o período de proteção de patentes e são vendidos por preços até 90% mais altos que os genéricos, segundo a IMS Health.

A Teva, além de desenvolver seus próprios remédios de marca, como o Copaxone, fechou acordo em maio para pagar US$ 6,8 bilhões pela Cephalon Inc., que vende Provigil, um remédio para distúrbios do sono, e o tratamento da leucemia Treanda.

A Teva vai "desfrutar tanto das altas taxas de crescimento dos genéricos quanto da alta lucratividade das marcas", disse o diretor-presidente da farmacêutica, Shlomo Yanai, numa entrevista ao WSJ para discutir a compra da Cephalon. Após a aquisição, cerca de 40% da receita da Teva passaria a ser gerada por medicamentos de marca, frente a 30% antes, adicionou ele. As margens operacionais da Teva com o Copaxone são de cerca de 60%, estima Shibani Malhotra, um analista da RBC Capital Markets.

Nenhum comentário:

Postar um comentário