Dólar no Brasil preocupa, diz Lagarde
Autor(es): Luciana Antonello Xavier
O Estado de S. Paulo - 07/07/2011
Em sua primeira entrevista como diretora do FMI, Lagarde afirma que há excesso de fluxo de capitais para países emergentes
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse ontem que se preocupa com o excesso de fluxo de capitais para países emergentes como o Brasil. Segundo ela, a crise da dívida soberana europeia tem colaborado para aumentar o fluxo para esses países. "Essa é uma preocupação imediata", afirmou durante sua primeira entrevista coletiva no cargo, em Washington.
De acordo com Lagarde, esse movimento reflete o desequilíbrio da retomada da economia global. "Temos o problema da dívida soberana e quando olhamos os emergentes vemos riscos de superaquecimento e inflação."
Lagarde disse que a crise financeira global de 2008 foi superada e que o mundo está em recuperação. "Mas é uma recuperação desigual", observou. Ela ressaltou que há várias preocupações nesse cenário desigual e uma das principais é a crise da dívida soberana na Europa.
Ex-ministra das Finanças da França, Lagarde foi nomeada na semana passada para ocupar o lugar de Dominique Strauss-Kahn, preso em 14 de maio sob acusações de crime sexual. Ele foi liberado da prisão domiciliar na semana passada para responder ao processo em liberdade, após surgirem questionamentos sobre a credibilidade da vítima.
Reformas. Lagarde destacou várias vezes, a preocupação do Fundo em manter sua credibilidade e seguir adiante com mudanças implementadas por seu antecessor Dominique Strauss-Kahn. "Strauss-Kahn iniciou excelentes reformas no FMI e pretendo continuá-las", disse.
"O FMI é e continuará sendo independente", disse Lagarde, em seu esforço para cuidar da imagem do FMI após o escândalo. Ela disse que é preciso manter a presunção de inocência até que se prove o contrário. "Esse enorme apetite da mídia por manchetes acaba atrapalhando julgamentos."
Para Lagarde, é preciso deixar de analisar as economias apenas pelos critérios tradicionais. "Temos de incluir questões sociais e de emprego, sem, no entanto virar uma butique para ajudar na criação de empregos. Para isso existem órgãos competentes. O que não podemos perder de vista é que estamos aqui para servir 187 países membros e ajudá-los quando preciso", afirmou.
Lagarde disse que entra no FMI com a "mente aberta". "Aceito esse emprego com orgulho e humildade. Vocês devem estar surpresos de eu estar aqui logo após minha eleição, mas há temas que não podem esperar pelas férias de verão e por isso estou aqui", disse a primeira diretor-gerente mulher a assumir o cargo na história do Fundo.
Segundo ela, o Fundo tem o papel de fazer recomendações, dar conselhos e dar suporte. "Há questões que o Fundo deve focar, relativas à ação externa do fundo e questões internas", disse em outro momento da coletiva. Ela afirmou que todos os temas a serem tratados pelo FMI têm a ver com conectividade, para exercer um trabalho mais amplo, credibilidade, e compreensão das questões e realidades de cada país.
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