segunda-feira, 20 de junho de 2011

Novo capitalismo do Brasil inspira receio regional

ANÁLISE DIPLOMACIA BRASILEIRA

Sem condições de impor sua vontade à força na região, país tem que demonstrar ganhos para quem o seguir

A política regional da China, forçada a tranquilizar vizinhos mais fracos, é exemplo inspirador

MATIAS SPEKTOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

A expansão da economia brasileira na América do Sul está transformando o ambiente estratégico do país, que tende a ser mais temido e menos amado por seus vizinhos. O receio regional diante do novo capitalismo brasileiro conquistou adeptos e veio para ficar.

Nas capitais sul-americanas teme-se que o Brasil imponha as regras do jogo que mais lhe convém, aumentando ainda mais a assimetria entre as partes e assim aprofundando a dependência econômica.

Vendo seu ciclo econômico sincronizado com o brasileiro, esses países sentem uma perda real de espaço de manobra. Por isso, desconsiderar a preocupação deles como mera bravata é um equívoco de grandes proporções.

Ignorá-la pode custar caro para um Brasil cuja economia está cada vez mais exposta aos riscos de uma vizinhança que não controla.

O sucesso dos agentes econômicos brasileiros na região requer um ambiente estável e previsível. É essencial, portanto, ganhar a aceitação daqueles povos e governos. Para lidar com essa realidade o Brasil precisará desenvolver novos instrumentos.

No passado recente, por exemplo, bastava patrocinar instituições regionais que oferecessem aos vizinhos uma plataforma de negociação ou um balcão sobre o qual apresentar demandas.
Esses mecanismos hoje não dão conta do recado.

Não há alternativas fáceis. O Brasil não tem condições nem apetite para impor sua vontade à força.

Tampouco contempla ganhar o consentimento de seus vizinhos cedendo parcelas de soberania a entidades supranacionais, como o faz a Alemanha. A solução talvez passe por deixar claro que há ganhos para quem seguir o Brasil a reboque.

Para isso, seria necessário aumentar dramaticamente a oferta de cooperação técnica, promoção cultural e intercâmbio educacional.

Seria preciso estudar as opiniões públicas dos países onde há mais interesses em jogo e desenhar estratégias de comunicação que possam reverter o deterioro da imagem brasileira.

A política regional da China, forçada que é a tranquilizar seus vizinhos mais fracos, oferece um exemplo que serve de inspiração.

Não se trata de adotar uma ªdiplomacia da generosidadeº nem de dobrar interesses brasileiros aos de terceiros.

Ao contrário, trata-se de atentar para as sérias implicações estratégicas inerentes ao nosso processo de ascensão.

Matias Spektor, doutor pela Universidade de Oxford, é coordenador do Centro de Relações Internacionais da FGV

Fonte: Folha de S.Paulo

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