Às vésperas do G-20 agrícola em Paris, o ministro de Agricultura da França, Bruno Le Maire, aponta "divergências profundas" entre os países do grupo sobre o plano de ação para reduzir a volatilidade dos preços agrícolas e reforçar a segurança alimentar.
"Está difícil arrancar um acordo", afirmou o ministro, que prometeu "suar a camisa" para lançar o plano nas negociações entre os ministros de Agricultura, na quarta e na quinta-feira. Para outras fontes, porém, Le Maire exagera para cantar vitória ao final da conferência de Paris.
Ele aponta três questões especialmente "sensíveis" que causariam maior confronto entre os paises desenvolvidos e os emergentes que formam o G-20.
O primeiro é a resistência da China e da Índia em participar do Sistema de Informação dos Mercados Agrícolas (Sima). É a principal iniciativa do plano, e servirá para coletar dados sobre produção e estoques globais e trazer mais transparência ao mercado agrícola.
Enquanto paises como os Estados Unidos divulgam os dados de seus estoques, outros, incluindo a União Europeia, mantêm segredo sobre seus volumes de alimentos. Segundo Le Maire, a China e a Índia insistem que se trata de questão de segurança nacional preservar seus dados em sigilo.
Para o Brasil e outros exportadores, o setor privado precisa participar do Sima, do contrário a iniciativa se tornará irrelevante. Nesse sentido, a França tenta atrair à mesa as principais tradings de commodities - ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus - que dominam o comércio de grãos e têm muita informação sobre os mercados.
Já certos negociadores acham que a França deve estar sabendo mais que os outros países sobre as divergências. Pequim primeiro ficou contra a iniciativa. Mas na última reunião técnica não deu sinal de que bloquearia o Sima. O que pode acontecer é a China acabar aceitando a iniciativa e depois não implementá-la, ou implementá-la muito devagar.
Pelo "draft" (rascunho) do "Plano de Ação do G-20 sobre Volatilidade dos Preços Agrícolas e Agricultura", obtido pelo Valor, a primeira reunião do Sima será em setembro e as primeiras projeções sobre o mercado agrícola serão apresentadas até junho de 2012.
Segundo Le Maire, o segundo complicador envolve um compromisso para os países do G-20 não restringirem suas exportações agrícolas para evitar a desestabilização do mercado mundial. No ano passado, a Rússia impôs embargo total a suas exportações de trigo após uma severa estiagem, o que ajudou para a explosão dos preços no mercado internacional. A Argentina impõe taxas sobre suas exportações, que também restringem o comércio agrícola.
No entanto, o texto em busca de consenso é bem modesto. Prevê que os países "removam restrições a exportação de alimentos ou taxas extraordinárias para compras de alimentos para propósitos não comercial humanitário" - portanto para um segmento bem limitado das exportações. A ideia é que os países adotem uma resolução específica na conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro, em Genebra.
Segundo Le Maire, o terceiro "complicador" é a regulação dos mercados futuros de commodities para frear a ação de especuladores financeiros. O Reino Unido e a Austrália resistem à iniciativa. Mas esta semana, em Paris, os ministros de Agricultura vão apenas reiterar que a regulação dos mercados de derivativos é importante para o bom funcionamento dos mercados físicos agrícolas. Decisões mesmo virão dos ministros de Finanças do G-20, depois de setembro.
Fonte: Valor Econômico
(sem grifos no original)
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