terça-feira, 29 de novembro de 2011

Uma meta ambiciosa para a balança comercial

Fonte: Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff tem manifestado crescente preocupação com os reflexos da deterioração da crise internacional sobre a economia brasileira em 2012. Pessimista com a evolução dos problemas na zona do euro e nos Estados Unidos, a presidente surpreendeu ao cravar a meta de elevar as exportações a US$ 276 bilhões no próximo ano para mitigar o esperado aperto nas contas externas. Os dados de outubro já revelaram a retração dos financiamentos internacionais.

A meta é ambiciosa sob vários aspectos, considerando os resultados recentes, as previsões do mercado financeiro e a expectativa para a economia mundial. É verdade que a balança comercial está surpreendendo neste ano e batendo sucessivos recordes. No início do ano, a previsão era que o saldo comercial seria de módicos US$ 8 bilhões; agora, a expectativa é que vai a US$ 28 bilhões. Até outubro, a diferença positiva entre exportações e importações acumulava US$ 25,4 bilhões, o maior resultado no período desde o início da crise internacional, em 2007; incluindo-se as três primeiras semanas de novembro, o saldo já chegou a US$ 26,7 bilhões.

As exportações atingiram o recorde em média diária até outubro, totalizando US$ 212,1 bilhões; com as três primeiras semanas de novembro, chegam a US$ 225,7 bilhões. Com mais um mês de negócios, as exportações podem fechar o ano perto de US$ 240 bilhões. Daí para os US$ 276 bilhões almejados pela presidente seria um aumento de 15%, nada espantoso perto dos quase 30% deste ano.

O desempenho surpreendente da balança comercial brasileira neste ano tem sido sustentado pelo forte aumento dos preços dos produtos exportados, especialmente das commodities. Os produtos básicos, que representam 39% da pauta de exportações, tiveram os preços reajustados acima das importações, favorecendo os termos de troca.

O minério de ferro, a soja em grão e o petróleo, as três commodities mais exportadas pelo Brasil, exemplificam bem a situação. As exportações de minério de ferro aumentaram apenas 4% em quantidade neste ano até outubro, mas saltaram 51% em valor, totalizando US$ 34,5 bilhões, porque o preço do produto subiu 46%. No caso da soja em grão, o aumento de 33% do preço do produto fez com que a receita com a exportação aumentasse 37%, para US$ 14,7 bilhões, apesar de a quantidade embarcada ter sido ampliada em apenas 3%. No caso do petróleo, a quantidade exportada cresceu 4%, mas o valor exportado avançou 46%, para US$ 17,5 bilhões, porque o preço do produto teve reajuste de 40%.

De acordo com dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), publicados pelo Valor, os preços dos produtos brasileiros exportados aumentaram 25% na média, neste ano até outubro.

No entanto, tudo indica que 2012 não deverá ser tão bom quanto 2011 para o comércio internacional e o principal motivo é o menor crescimento global, que terá impacto direto na redução dos preços dos produtos exportados. Na verdade, segundo a Funcex, o preço médio dos produtos brasileiros exportados, que vinham subindo desde 2009, recuaram 1% em setembro e outubro em comparação com agosto.



É bastante provável uma recessão na zona do euro, destino de cerca de 20% das exportações brasileiras; a economia dos Estados Unidos, que absorve 10%, deverá ficar mais fraca; e a China, que abocanha 17,5% das vendas externas, está desacelerando.

De acordo com especialistas consultados pelo Valor, o preço médio das exportações brasileiras pode cair 10% em 2012. Como as importações concentram-se mais em bens manufaturados, cujos preços são menos voláteis e devem cair menos, os termos de troca do comércio exterior brasileiro deixarão de ser tão favoráveis e o superávit comercial deve diminuir. A expectativa desses mesmos especialistas é que o saldo da balança comercial brasileira possa cair até pela metade, para US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões.

Do lado positivo, há a desvalorização do real, que favorece as exportações. Mas esse não é um ponto líquido e certo, dada a volatilidade dos mercados. Para atingir o objetivo de ampliar as exportações, o governo Dilma deve retomar velhas promessas de desonerar as vendas externas e eliminar os conhecidos gargalos de logística e infraestrutura.

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