Vários jornais noticiaram nesta terça-feira (29/11/2011), que estudos feitos pela New Car Assessment Programme (NCAP) comprovam que os carros fabricados no Brasil não possuem segurança e que as “colisões a velocidades moderadas representam um alto risco de lesões fatais para motoristas e acompanhantes” (O Estado de São Paulo).
Esse resultado deixa evidente os efeitos do protecionismo: indústria deficiente, produtos sem segurança e prejuízo aos consumidores.
Competitividade não se adquire com barreiras comerciais!
Apesar dos pontos positivos do plano elaborado pelo governo para aumentar a competitividade da indústria nacional, é certo que há medidas protecionistas embutidas. Espero, sinceramente, que o “Brasil Maior” não seja sinônimo de “Prejuízo Maior” para a população brasileira.
Abaixo, segue reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo referente ao tema.
Armadilhas sobre rodas
São de arrepiar as conclusões do teste de avaliação da segurança dos automóveis populares mais vendidos no Brasil. Na maioria deles, colisões a velocidades moderadas representam um alto risco de lesões fatais para motoristas e acompanhantes, pois esses veículos não dispõem de bolsas infláveis (air bags) e suas cabines têm estrutura deficiente. Numa escala de 1 a 5, sete modelos básicos das principais montadoras em operação no País receberam a nota mais baixa. São armadilhas sobre rodas.
De acordo com a ONU, o Brasil registra em média, por ano, 19 mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes. É um índice quatro vezes maior do que o detectado na Europa, de cerca de 5 mortes por 100 mil habitantes por ano. São vários os fatores que explicam o alto número de acidentes de trânsito registrados no País, entre os quais os efeitos da ingestão do álcool ocupam posição destacada. Também a má qualidade das pistas e a sinalização insuficiente contribuem para essas ocorrências. Mas o alto índice de letalidade tem muito a ver com a má qualidade dos veículos no que se refere à segurança das pessoas que os utilizam.
Esta é uma clara conclusão dos resultados dos testes dos veículos novos fabricados e vendidos na América Latina - onde o índice de acidentes com mortes é o mais alto do mundo - realizados pelo braço latino da New Car Assessment Programme (NCAP). Os testes de impacto a média velocidade (64 quilômetros por hora) contra uma barreira deformável, que simulam uma colisão com outro veículo, mostraram que os veículos vendidos na região são frágeis, não dispõem de itens hoje essenciais em outros países para proteger as pessoas, cujas vidas, por isso, são colocadas em risco. Esses carros estão atrasados 20 anos em relação aos modelos comercializados na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo.
A NCAP é uma organização apoiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) que realiza testes independentes para alertar os consumidores e os governos sobre a segurança dos modelos comercializados no país e orientar os fabricantes, desde que estes estejam dispostos a receber orientações desse tipo.
No Brasil, eles resistem. Já no ano passado, a Anfavea, associação que representa as montadoras instaladas no País, disse que os veículos aqui fabricados atendem às especificações legais e, por isso, seus fabricantes nada tinham a comentar sobre os resultados dos testes da NCAP. Repetiram a resposta neste ano. De fato, a despeito de colocarem em risco a vida de seus usuários, os veículos comercializados no mercado interno respeitam as regras do governo. Essas regras têm sido muito favoráveis às montadoras, desde que elas começaram a se instalar no País, na metade do século passado. Nos últimos anos, elas ganharam apoio explícito dos governos do PT, pois, na década de 1980, o partido deu seus primeiros passos na região onde se concentravam as montadoras e onde, não por acaso, surgiu politicamente sua figura mais popular, o ex-presidente Lula.
Desde essa época, em várias ocasiões, interesses do PT e das montadoras se confundiram. O episódio mais recente ocorreu em setembro, com a escandalosa proteção dada a elas, mediante a imposição de alíquota de 30% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos veículos importados fora do Mercosul e do México.
Assim protegidas, e agindo como uma espécie de "oligopólio consentido", as indústrias têm assegurada uma imensa fatia do mercado doméstico. Desse modo, impõem preços muito altos - mesmo descontados os impostos, que são muito pesados, os carros brasileiros chegam a custar o dobro do modelo equivalente vendido nos Estados Unidos - e amealham grandes lucros. De acordo com publicações especializadas do mercado de automóveis, nos oito primeiros meses deste ano, elas remeteram para suas matrizes no exterior cerca de US$ 4 bilhões como pagamento de lucros e dividendos. É o setor que mais remete lucros para o exterior.
Mas elas quase nada investem em tecnologia e, sobretudo, em segurança dos veículos. O resultado não poderia ser diferente daquele constatado pela NCAP.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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