quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Estudo constata o risco à estabilidade econômica e financeira devido a concentração de poder econômico das grandes corporações. Será que é hora de regular a atuação destas entidades?

Em notícia publicada hoje (leia abaixo), a BBC Brasil divulga pesquisa realizada no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça constatando que a economia global é comandada por uma "superentidade" composta por uma rede de poucas corporações transnacionais que, devido a interdependência entre estas entidades, pode trazer riscos à estabilidade do sistema econômico mundial.

Segundo a pesquisa, esta "superentidade" é formada por cerca de 147 empresas que possuem parte ou a totalidade da propriedade umas das outras (o que caracterizaria a interdependência acima mencionada) .
Foto: PloS ONE

Ainda de acordo com o estudo, esta "superentidade", apesar de representar “menos de 1% das multinacionais do mundo, comanda 40% da riqueza gerada pelas outras 42.913”.

Trata-se de tema que a muito tempo vem suscitando discussões entre estudiosos e pesquisadores, e o poder das grandes corporações já é reconhecido, pelo menos na prática, pela sociedade internacional, inclusive sendo considerada pelos juristas e internacionalistas como sujeito de direito internacional público, muito embora haja rejeição desta concepção pelos mais tradicionalistas.

Pelos motivos apontados (concentração de poder e risco a estabilidade econômica e financeira) discute-se a necessidade de regular a atuação dessas entidades. Todavia trata-se de tema complexo, polêmico, controvertido e que poucos se atrevem a levantar...

Rede 'pequena' de corporações controla economia global, diz pesquisa

A economia global é comandada por uma "superentidade" formada por uma rede de relativamente poucas corporações transnacionais, cuja relação estreita de propriedade entre si traz riscos à estabilidade do sistema econômico mundial, segundo estudo realizado por cientistas com base na Suíça.
A pesquisa, feita por especialistas do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, com sede em Zurique, e que será publicada na revista científica PloS ONE, usou métodos de análise de sistemas complexos para estudar 43.060 multinacionais, a partir de uma base de dados de 37 milhões de empresas e investidores de todo o mundo, datada de 2007.
Das corporações estudadas, os cientistas criaram um modelo a partir das participações acionárias das empresas entre si, somadas a seus lucros operacionais. Assim, os pesquisadores chegaram a um "núcleo" de 1.318 corporações que possuem no mínimo duas outras - embora elas tivessem, em média, elos com 20 outras empresas.


Essa rede de 1.318 companhias, de acordo com a pesquisa, possuía a maior parte das ações de empresas de alta confiabilidade e lucratividade (conhecidas como ações blue chip) e de manufatura do mundo, que representam cerca de 60% dos lucros operacionais globais.
A maioria das corporações que compõem este grupo é formada por bancos. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha são os países com o maior número de empresas nesta lista, seguidos por França, Espanha e Itália. O banco Bradesco é a única empresa brasileira que está neste núcleo.
Rede restrita de corporações
Ao estreitar ainda mais a rede de propriedade das corporações, os cientistas encontraram uma "superentidade" formada por 147 empresas que possuem parte ou a totalidade da propriedade umas das outras. Segundo o estudo, esta "superentidade", embora represente menos de 1% das multinacionais do mundo, comanda 40% da riqueza gerada pelas outras 42.913.
A exemplo do grupo mais amplo, esta rede "superexclusiva" é formada, em sua maioria, por instituições financeiras. Entre as 20 corporações mais poderosas desta relação estão o banco britânico Barclays (em primeiro lugar) e os bancos americanos JPMorgan Chase e Goldman Sachs.
Pelo fato de a pesquisa ter usado dados de 2007, a instituição financeira americana Lehman Bros., cuja falência acabou dando início à crise mundial de 2008, aparece em 34º lugar entre as corporações mais poderosas da "superentidade".
Os autores da pesquisa afirmam que, usando métodos de análise de sistemas complexos, pretenderam realizar um estudo sobre a economia global levando em conta informações "puras", e não convicções ideológicas. "Deixe os dados falarem, e não os dogmas", disse um dos pesquisadores, James Glattfelder, em seu blog.
O estudo, no entanto, sofreu críticas. O especialista Yaneer Bar-Yam, chefe do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra (EUA), disse à revista New Scientist que a pesquisa iguala as noções de propriedade e de controle, o que não seria, segundo ele, sempre a mesma coisa.
Riscos à estabilidade
De acordo com o economista John Driffill, da Universidade de Londres, este estudo é o primeiro a identificar empiricamente algo há muito debatido, que é a rede de poder formada por um grupo razoavelmente pequeno de grandes corporações transnacionais.
Segundo ele, no entanto, a importância do estudo não reside tanto no fato de verificar a existência de uma "superentidade" que comanda a economia no mundo, e sim em trazer novas ideias sobre os riscos à estabilidade financeira global, com base na interdependência entre as corporações.
"O problema na Europa hoje é que todos os bancos que possuem parte da dívida grega e espanhola fizeram empréstimos entre si, então se um deles quebrar, todos os outros quebrarão. São ligações como essas que fizeram com que a quebra do Lehman Bros. em 2008 se tornasse um desastre global", disse Driffill à BBC Brasil.
O estudo foi divulgado depois que ativistas em todo o mundo realizaram ocupações e protestaram contra as grandes corporações e os cortes de gastos públicos.
Driffill afirma, no entanto, que o fato da economia global ser comandada por uma rede limitada de empresas não é algo intencional ou planejado, e sim um movimento espontâneo.
"Este é um grupo grande, formado por mais de cem empresas, com interesses bastante diversos entre si. Não é possível que elas estejam de alguma forma conspirando", afirma.
Fonte Matéria: BBC Brasil

Fonte Foto: PloS ONE - BBC Brasil

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