Artigo publicado no Valor Econômico de hoje, 31 de outubro/2011, discorre sobre a preocupação da Organização Mundial do Comércio (OMC) com as medidas protecionistas adotadas pelo Brasil nos últimos tempos.
Além das críticas que fiz em post anteriores, é interessante observar outro ponto negativo gerado pelas medidas protecionistas, apontado pelo referido artigo: o descrédito. Até as medidas legais adotadas pelo Brasil, como sua política de defesa comercial contra práticas desleais de comércio, passam, agora, a ser questionadas pela Organização e seus membros.
Como diz o ditado: a toda ação corresponde uma reação oposta. Basta saber se será de igual intensidade...
Protecionismo do Brasil começa a preocupar membros da OMC
O Brasil passou a ser um dos países a sofrer mais vigilância entre os 151 membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) por suspeita de crescente protecionismo, num cenário de tensão causado pela queda da demanda global. "O Brasil corre o risco de virar a "Geni" do comércio internacional, levando bordoadas de todo lado", disse um importante observador próximo da OMC, resumindo a situação atual e comparando o país à personagem da música "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque.
Relatório da OMC para os líderes do G-20 diz que a Índia, o Brasil e Rússia foram os países do grupo que mais impuseram novas medidas restritivas ao comércio nos últimos meses, embora os três tenham também adotado várias ações de liberalização.
A OMC tem um novo mecanismo para monitorar de perto os países e pede aos governos a confirmação de medidas comerciais, sem porém fazer comentário sobre a compatibilidade ou não com as regras internacionais. Nos últimos tempos, a lista sobre o Brasil não cessa de aumentar, indo de aplicação de licença não automática a importação, passando por preferência nacional nas licitações, subsídios no crédito e aumento de tarifas.
Em outro relatório, a União Europeia aponta a Argentina e o Brasil como os dois maiores usuários de medidas protecionistas recentemente. Em comparação com 2009-2010, os europeus dizem que o Brasil está agora "ativamente" acelerando para alcançar o vizinho com "medidas inquietantes que impactam sobre o comércio e o investimento". Além de se queixar de uma série de restrições, a UE acusa o Brasil de ter começado a aumentar tarifas de importação, independentemente da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, vendo uma tendência que "vai continuar no futuro próximo".
Uma "preocupação crescente" específica dos europeus é de que o Brasil siga a Índia e aplique taxa de exportação sobre minério de ferro, afetando o suprimento do produto e fazendo o preço aumentar nos próximos meses.
Para parceiros, as restrições ao comércio por parte do Brasil se tornaram ainda mais relevantes diante da conjuntura frágil da economia internacional. Mas também levando em conta a posição agressiva até recentemente do país com vitórias contra os Estados Unidos no caso do algodão e da União Europeia no caso do açúcar.
Quando as medidas de política industrial começaram a tomar contornos mais comerciais, incluindo reforço da defesa comercial e mais agilidade para encurtar o prazo de investigações sobre importações ditas desleais, o país passou a ser suspeito de enveredar o caminho do protecionismo. As medidas eram consideradas, porém, da "área cinzenta". Os parceiros reclamavam sem excesso e o Brasil podia justificar com ou menos dificuldade. Porém, a alta do IPI para carros importados, em setembro, rompeu completamente a barreira. O consenso na área comercial em Genebra é de que o país dessa vez sequer teve a sutileza de esconder a inconsistência com as regras da OMC e atropelou duas delas de uma só vez, sobre benefícios vinculados a desempenho exportador e conteúdo nacional.
O Japão e a Coreia do Sul começaram o ataque contra a alta do IPI no Comitê de Acesso ao Mercado. Mais queixas virão em outros comitês e dessa vez o Brasil não poderá escapar com argumentos de procedimento e precisará dar explicações. O passo seguinte pode ser o questionamento diante dos juízes da OMC, o que pode conduzir à retaliação mais tarde.
Outra medida que "acendeu a luz" de parceiros foi a nova margem de preferência de 25% que o governo Dilma Rousseff dará para as empresas nacionais nas compras governamentais. A UE anunciará em dezembro uma nova legislação sobre compras governamentais, visando sobretudo o Brasil, China e Rússia. Vai exigir reciprocidade ou do contrário também fechará seu mercado a empresas brasileiras no setor.
A credibilidade brasileira está sendo afetada em várias áreas na cena comercial. O país, antes reclamante, passou a ser questionado nos comitês de diferentes temas na OMC. O peso de seus argumentos também mudou para menos, nas discussões de preparação da conferência ministerial de dezembro e sobre o futuro das negociações da Rodada Doha.
Outra constatação repartida por vários negociadores na cena comercial é de que a proposta brasileira para a OMC discutir impacto do câmbio no comércio, apresentada em maio, está mais comprometida. Não há a menor chance de o país conseguir tão cedo apoio para levar a OMC a abrir negociação do impacto de câmbio sobre o fluxo comercial.
A ideia de antidumping cambial, para impor tarifa adicional na importação originária de parceiro com câmbio desvalorizado, não tem como decolar tão cedo. Tudo isso é visto no momento na OMC como pretexto para o Brasil impor novas medidas protecionistas.
Fonte :Valor Econômico
Autor: Assis Moreira
Apesar da simplicidade do demonstrado acima aposto em algumas considerações, quais sejam:
ResponderExcluir1)Protecionismo, como ferramenta de controle, sempre foi utilizado pelos países ditos de 1° mundo, e seus impactos sempre foram negativos para as economias em crescimento (emergentes). Com a mudança do cenário econômico, 2008/2009, e os impactos na balança financeira agora empurraram os grandes para baixo e como em qualquer balança, quando um desce o outro, nesse caso os (emergentes)sobe.
2) A grande preocupação do mercado, já expressada pelos organismos de controle é sem dúvida o retorno ao status quo anterior a crise. A nova ordem mundial, em relação ao bloco econômico "mais sensível historicamente" tenta agora frear o crescimento e o fortalecimento das economias internas, fator que resultou num menor impacto frente a crise passada.
3)Acredito que a política Nacional, protecionista, vai causar, e já esta causando, muita dor de cabeça para quem sempre esteve em cima e agora faz de tudo para voltar para lá.
Acredito que é isso mesmo, esse é o caminho. Agora a briga é de cachorro grande, não tem mais em cima e embaixo, pelo menos nas aparências, estamos todos no mesmo nível.
Olá Fabio,
ResponderExcluirEu entendo seu posicionamento e, apesar de não concordar, respeito.
Na verdade, não consigo ver o protecionismo como solução para os problemas econômicos de um país. Na verdade ele pode até trazer benefícios a curto prazo, mas não numa projeção a médio e longo prazo, sendo, inclusive, prejudicial.
Além disso, trata-se de medida não utilizada somente por países desenvolvidos, mas em desenvolvimento também. Ademais, utilizar este argumento para justificar a violação das normas internacionais é perigoso. O que acontecerá se, sob esse pretexto, cada um dos países membros da OMC começarem a romper com as normas inicialmente acordadas? Difícil dizer, mas com certeza o resultado não será positivo nem para os países desenvolvidos nem para os emergentes.
Creio que outras medidas deveriam ser tomadas pelo Governo, desde uma revisão das normas tributárias e trabalhistas, até maiores investimentos em educação e infra-estrutura, essas medidas, sim, teriam resultados mais consistentes.